sábado, 20 de abril de 2019

"A hora da Nossa Senhora da Solidão", por Mariana Ianelli






Sobre esta hora, Rilke foi mais longe que todos os evangelhos canônicos e disse que a mãe ao pé do sepulcro ficou “imóvel como o interior da pedra ficou imóvel”. Em qualquer outra hora, essa mãe poderia ser da glória, da esperança, dos remédios, dos milagres, do bom conselho, da boa morte. Nesta hora, não. Nesta hora, ela é da solidão, mãe das mães silenciosas que alguma vez em suas vidas também ficaram imóveis, cada uma com o nome do seu filho suspenso nos lábios, suportando duramente tudo o que jaz dentro da pedra junto com um filho, mundos possíveis, amigos, safras de milhares de momentos, elos ardentes no tempo, amores de Madalenas que nem saberão dessa perda, só talvez, de vez em quando, sintam um estranho aperto no peito, felicidades grandes e pequenas, o inimaginável, o imprevisível, poemas. Nesta hora, a mãe está desamparada. Ela, de quem se espera auxílio, compreensão, paz, misericórdia. Desamparada, ausente da música das coisas e das águas, sem pés e sem mãos, na desolação de todos os possíveis, ela, de quem se espera que console, que proteja, que socorra, que conceda graças. Que esperem. Que vigiem. Cuidem dessa mãe, agora desprotegida, desarvorada de cuidados. Cantem para ela, neste dia de pedra, como um carinho de filho, um caminho de flauta, o roçar de uma folha. Pensem nessa mãe imóvel.

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* Mariana Ianelli é escritora, mestre em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, autora dos livros de poesia Trajetória de antes (1999), Duas chagas (2001), Passagens (2003), Fazer silêncio (2005 – finalista dos prêmios Jabuti e Bravo! Prime de Cultura 2006), Almádena (2007 – finalista do prêmio Jabuti 2008), Treva alvorada(2010) e O amor e depois (2012 – finalista do prêmio Jabuti 2013), todos pela editora Iluminuras. Como ensaísta, é autora de Alberto Pucheu por Mariana Ianelli, da coleção Ciranda da Poesia (ed. UERJ, 2013). Estreou na prosa com o livro de crônicas Breves anotações sobre um tigre (ed. ardotempo, 2013). Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos sábados.

Trazido RUBEM. Revista da Crônica – Notícias, entrevistas, resenhas e textos feitos ao rés-do-chão.: https://rubem.wordpress.com/2019/04/20/a-hora-da-nossa-senhora-da-solidao-mariana-ianelli/?fbclid=IwAR0IRHI5-f7SAilcQ8FTCJ2vi2b07fS0jSf8Xi9P4gKGiW-9MstdG3tv2n0

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Poema a Nossa Senhora da Conceição. Por José Newton Alves de Sousa.




Nossa Senhora da Conceição,
Virgem bendita, porta dos céus,
Ouve-me a prece do coração,
Ouve os clamores dos lábios meus.

Ouve-me a prece, Mãe piedosa,
Doce Rainha, Mãe de Jesus,
Ouve-me a prece tão dolorosa,
Entre mil trevas buscando a luz.

Teus olhos claros, volve-os à Terra,
Teus olhos puros, imaculados,
Olhos que o Anjo de Paz descerra
Pra que sejamos santificados.

Olha, Senhora, que noite escura
Pesa, gemendo, sobre a cidade.
E é tão espessa, que só a aclara
Teu olhar santo de Piedade.

Olha, Senhora, quanta desgraça
Pelos caminhos e pelos lares!
Dá que a potência da tua Graça
Sustenha a fúria, domine os mares.

Olha, Senhora, quanta tristeza
Pelos tugúrios sem luz nem pão!
Dá que migalha de tua riqueza
Dissipe as trevas e a inanição.

Olha, Senhora, quanta amargura,
Que sofrimentos no mundo inteiro:
E um gesto, apenas, de tua mão pura
Pode salvá-lo do cativeiro.

Olha, Senhora, quanta maldade,
Quanta ameaça de Sul a Norte!
Tem dó de todos, e tem piedade,
que é triste e escura, sem ti, a morte.

Nossa Senhora da Conceição,
Virgem bendita, porta dos céus,
Ouve-me a prece do coração,
Ouve os clamores dos lábios meus.

Não pode o mundo, não pode o inferno
Contra um só raio do teu Amor.
E quando queres, junto ao Eterno,
Vemos espinhos mudando em flor.

Ouve meus rogos, Mãe poderosa,
Dá paz ao mundo, salva a nação,
Tu que é de todas a mãe ditosa,
Nossa Senhora da Conceição.

Bahia, 30-11-1952.


Imagem: Nossa Senhora da Conceição, por Peter Paul Rubens (Museu do Prado, Espanha).

terça-feira, 16 de abril de 2019

Professora Jane Ribeiro, Presente!



No domingo nos deixou a confreira Joanna Angélica Vieira Ribeiro. Aos 96 anos, partiu para a casa do Pai e na eternidade se junta ao seu querido filho Zezéu Ribeiro. Grandes perdas para a Bahia, ambos.

Jane Ribeiro foi uma grande professora e uma grande mulher.
Nós seguimos, com mais esta saudade.

Numa singela homenagem, incluímos aqui três páginas de seu último livro, Retalhos e Rebotalhos, lançado em 2016 pela Editora Mondrongo. Nessas páginas, encontra-se bela reflexão da autora, cheia de sabedoria e afeto, sobre a própria trajetória de vida, inspirando-nos à leitura deste comovente livro de memórias..









sexta-feira, 12 de abril de 2019

"Claridade". Por Ângela Araújo.

Na música CLARIDADE (autoria de Nizan Guanaes e Maria Célia Monteiro), a autora Maria Célia, falecida recentemente no dia 28.03.19, transformou sua restrição em não poder tomar sol, por questões de saúde, num poema encantador!

No vídeo, a canção é interpretada por Tiago Rocha e Renata Mesquita.