terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O Brasão de Armas da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris, por Paulo Veiga. Um presente de Saja.

No último dia 30 de janeiro, Saja me enviou o texto que ele próprio havia solicitado ao Arquiteto Paulo Veiga sobre o brasão de nossa Academia. Saja nos lembrava sempre do tesouro que a Academia representa e queria ajudar a torná-la mais dinâmica e a sair de nossos próprios muros. Sua presença era sempre marcante. É inesquecível a sessão em que ele nos falou sobre a nossa casa comum, apresentando a Laudato Si. Saja viveu por um mundo melhor.

Agradecemos a Paulo Veiga por esta preciosa contribuição!



Ao voltar as atenções para a fortuna simbólica contida em sua identidade visual, a Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris se alinha, de maneira muito louvável, aos mais recentes movimentos direcionados ao saber heráldico.
Objeto de acentuado descaso, principalmente a partir das décadas que sucederam o fim da monarquia brasileira, às manifestações das ciências heróicas sobreviveram graças a denodados esforços pontuais daqueles que nutriam, corajosamente, um interesse pelo mundo dos brasões.
Em nível epistemológico, os estudos heráldicos sofreram consideráveis mudanças nos meados do século XX com o medievalista francês Michel Pastoureau (1947/-) quando novas pesquisas complementaram a tradicional abordagem sobre o tema, onde prevalecia o caráter nobiliárquico e genealógico.
Em particular, recentemente, a Bahia ficou desemparada nesse tema depois do desaparecimento dos seus dois grandes heraldistas: Irmão Paulo Lachenmayer e Capitão Vitor Hugo. Se por um lado, essa ausência de alguém especialisado no assunto causou estragos em pretensas criações heráldicas em território baiano, por outro, um espólio de valor incalculável foi deixado e está disponível para investigações sérias que podem oferecer à nossa arte nova interpretações da nossa história. Nesse legado encontra-se o brasão de armas da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris.
O emblema da mariana Academia Mater Salvatoris se assemelha, em sua composição, aos brasões das universidades baianas, a exemplo da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Católica do Salvador e da Universidade Estadual de Feira de Santana. Essa semelhança se revela no tipo de escudo e na disposição de seus elementos externos. No caso da Academia Mater Salvatoris, as três tochas acessas são substituídas por três bastões dourados, dispostos em pala. Os três bastões são acompanhados, cada um, por um ramo de oliveira, também de ouro. Os ramos de oliveiras, explorados em sua plenitude nas armas da Universidade Federal da Bahia, aludem à sabedoria em todas as suas manifestações.
O escudo azul da Mater Salvatoris recebe três chamas em ouro dispostos em triangulo (roquete) e são acompanhadas por uma flor-de-lis também em ouro, localizada em uma posição que na heráldica é conhecida como chefe.
De acordo com o Capitão Vitor Hugo, “as três chamas aludem aos diversos ramos da cultura acadêmica, sob inspiração do Espírito Santo, visando sempre louvar Nossa Senhora na flor-de-lis e nos matizes do escudo, como bem enuncia o lema Mariæ Servituri.”
Com uma elegância bastante singular, principalmente se comparada ao emblema da Acadêmia de Letras da Bahia, o brasão de de armas da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris consegue, pela inteligência de quem o criou, louvar com muita convicção, a Senhora Mãe do Nosso Senhor Jesus Cristo. Pela beleza da sua composição e pela força do seu simbolismo que consegue resgatar os mais elevados valores do saber e do conhecimento.



Paulo Veiga é mestre em Artes Visuais e
doutorando no Programa de Pós-Graduação em
Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia.

Adeus, querido Saja! Olha por nós daí de cima.



A Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris está de luto pela perda do professor José Antonio Saja Ramos Neves dos Santos, o nosso querido Saja, que faleceu ontem em decorrência de uma grave insuficiência cardíaca. Deus lhe deu um coração e uma alma muito grandes para o seu físico tão frágil. Professor da UFBA, ia muito além de seus muros e era altamente vocacionado. Deixou centenas de alunos cujos testemunhos falam de seu impacto em suas vidas. Saja era incansável em sua missão evangelizadora - poderíamos dizer profética - e inspirou a muitos. Saja também era oblato beneditino, assumindo o nome de Irmão Francisco - como não poderia deixar de ser! Foi um dos mentores deste blog e recentemente nos enviou um post, que publicaremos em seguida.

Sua partida gerou grande comoção em toda a cidade.

A nota da Universidade Federal da Bahia é precisa ao descrevê-lo: "Saja era professor do Departamento de Filosofia da UFBA e uma figura pública das mais conhecidas e respeitadas em Salvador, com trânsito entre intelectuais de distintas inclinações e artistas de múltiplas áreas. Era um professor querido e reverenciado por seus alunos, ao longo de quase quatro décadas, e um colega estimado por todos. Indivíduo de cultivada espiritualidade, nele se destacava o traço de um pensamento generoso, amigo do belo, que o fazia sutil e acolhedor, mesmo em tempo de tamanha aspereza".

Reze por nós, querido Saja! Agradecemos a Deus por sua vida e pelo privilégio de sua amizade. Que Nossa Senhora, a Virgem Negra de MontSerrat, sua patrona nessa Academia, o leve suavemente até muito perto da plena luz divina, que agora você vê face a face, e interceda por todos nós em nosso caminho de fé.

Ana Cecília