quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Breve reflexão sobre o capítulo 1 da Exortação Apostólica Alegrai-vos e Exultai, do Papa Francisco (Ana Cecília de Sousa Bastos)


A Exortação Apostólica Alegrai-vos e Exultai, do Papa Francisco, é um grande presente para todos nós, católicos, e para todas as pessoas de boa vontade. Ao ler, eu era surpreendida a cada momento pela extraordinária simplicidade e grandeza de cada frase e invadida por uma profunda gratidão: a Deus, nosso Pai, acima de tudo, e ao Papa, por suas palavras sem dúvidas inspiradas pelo Espírito Santo.

“Alegrai-vos e exultai” (Mt5, 12), diz Jesus a quantos são perseguidos e humilhados por causa d’Ele”. Assim começa a Exortação. Pois somos chamados à santidade, “procurando encarná-la no contexto atual, com seus riscos, desafios e oportunidades, porque o Senhor escolheu cada um de nós "para “ser santo e irrepreensível na sua presença, no amor” (cf Ef1, 4).

Nós precisamos nos reconhecer circundados de uma “nuvem de testemunhas” (Carta aos Hebreus, 12, 1), onde estão os grandes santos, mas onde “podem estar a nossa própria mãe, uma avó ou outras pessoas próximas de nós”, diz Francisco. “A sua vida talvez não tenha sido sempre perfeita, mas, mesmo no meio de imperfeições e quedas, continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor”.

Os santos são os “amigos de Deus”, e são enviados para nos proteger, amparar e guiar. “Não devo carregar sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho”. Entendi que a comunhão dos santos também é isto, e persiste eternamente.

O Papa explica que são beatificados e canonizados pessoas que foram heroicas na prática das virtudes ou que sacrificaram sua vida no martírio ou por amor ao próximo: “imitação exemplar de Cristo”. Mas há também os que ele chama de “santos ao pé da porta”, em meio ao povo de Deus (pois ninguém se salva sozinho, mas “na complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana”). A santidade “nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Na constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante...daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou - por outras palavras – da classe média da santidade”.

Pois eu ia compreendendo aos poucos: como é possível navegarmos para águas mais profundas sem nos afastarmos, nem um milímetro, do chão da vida de cada dia, em cada um de seus detalhes, banais, desafiadores, milagrosos?

Muitos santos podem não vir a ser reconhecidos, mas são parte da função profética de Cristo e constroem a verdadeira história. O Papa cita Santa Tereza Benedita da Cruz, nesta fala que nos enche de esperança: “Na noite mais escura, surgem os maiores profetas e santos. Todavia a corrente vivificante da vida mística permanece invisível. Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado”.

E tem mais: “mesmo fora da Igreja Católica e em áreas muito diferentes, o Espírito suscita sinais da sua presença, que ajudam os próprios discípulos de Cristo”. Já tive sinais edificantes disso em minha própria vida.

Essa Exortação precisa ser lida e meditada por cada um de nós. Neste encontro, somos todos movidos pelo desejo de levar cada palavra para todos. Cada parágrafo é uma preciosidade, uma bênção! Não sou capaz de trazer toda a densidade, toda a riqueza.

Concluo transcrevendo um parágrafo que me tocou profundamente: “Cada um por seu caminho”, lembrando que nosso Criador sabe de tudo sobre cada um de nós desde antes de nascermos; e sabe pessoalmente. Lembro um cântico que diz que desde o inicio dos tempos.. "Tu escreveste já o meu nome junto ao Céu”.

“Cada um por seu caminho, diz o Concílio. Por isso, uma pessoa não deve desanimar, quando contempla modelos de santidade que lhe parecem inatingíveis. Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós. Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, do quanto Deus colocou nele de muito pessoal (cf 1 Cor 1, 7), e não se esgote procurando imitar algo que não foi pensado para ele. Todos estamos chamados a ser testemunhas, mas há muitas formas existenciais de testemunho”.
“Isto deveria entusiasmar e animar cada um a dar o melhor de si mesmo para crescer rumo àquele projeto, único e irrepetível, que Deus quis, desde toda a eternidade, para ele: “antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei” (Jer 1, 5).
Isto vale para todos, homens e mulheres (e ele tem uma palavra especial e carinhosa para a santidade feminina); sacerdotes, consagrados e leigos. Porque o Senhor tanto pode suscitar grandes conversões como nos fazer encontrar “uma forma mais perfeita de viver o que já fazemos: há inspirações que nos fazem apenas tender para uma perfeição extraordinárias das práticas ordinárias da vida cristã”. O cardeal vietnamita preso, que, renunciando à ânsia de libertar-se, decide “viver o momento presente, cumulando-a de amor”: “aproveito as ocasiões que vão surgindo cada dia para realizar ações ordinárias de maneira extraordinária”.

Não faltam ocasiões, sobretudo em meio às tensões também extraordinárias que ora vivemos em nosso país. Que sejamos instrumentos de Sua paz, sempre ao lado do amor e da justiça, e na direção da democracia, como nos mostra a CNBB em recente documento.

(Texto apresentado na Paróquia da Vitória, como atividade do Ano do Laicato, e em reunião ordinária da ALAMS)

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ladainha de Santo Amaro . Mabel Velloso.


Nossa Senhora Mãe de Jesus / Nossa Senhora que é minha Mãe/ Nossa Senhora de todos nós / Roga por tudo, que tudo é Teu / Roga por cada coisa, por cada ser/ Pelos que cantam, pelos que choram/ Os que Te esquecem, os que Te imploram/Nossa Senhora, Nossa Maria / Ajuda a tudo que peço aqui/ Pois tudo é Teu Doce Maria/ O mar azul desta Bahia/ o céu azul que não tem fim/ Maria dos tamarineiros e do cais de Doutor Pinho/Do manguezal dos riachos/Dos dendezeiros bonitos/ Que enfeitam cada caminho/ Maria das fontes limpas/Da Pedra e de Oliveira/Fonte do Oiti e do Brejo/Maria das cachoeiras/ Do Urubu, da Vitória/Maria das águas claras/ Que brincam por sobre os seixos / Lá no Rio do Timbó/Maria do Subaé de águas tristes pesadas / Maria dos barcos, canoas/Com velas cheias de vento / Maria de Itapema, Maria de Capanema/Maria das canas doces/Dos alambiques, do mel/Dos cajus, dos araçás/Maria das folhas, das flores/Das sementes, dos espinhos/ Maria de cada casa/E de todos os caminhos/Roga por nossa Terra/Por aqueles que sem terra/Lutam pra não morrer/Maria da nossa infância/ Dos carros de boi/Dos bondes que nos levavam/A passear pelos trilhos/ Os dois burrinhos na frente/Maria da Praça, do Conde/ Dos Navios, do Vapor/Maria de toda gente/Maria de todo amor/Maria de cada Igreja/De azulejos, alfaias/ Redomas, lindos altares/ Do Museu, do Paraíso/Maria das Procissões/ Das festas, das romarias/Dos cânticos, da alegria/Maria de cada noite/Maria de todo dia/Maria da esperança/Da ternura, do alento/Maria até do tormento/Da dor, de muita saudade/Dos coretos, dos cinemas/Maria da Lira, do Apolo/ Do Botafogo, Ideal / Maria do Bacurau/e dos Amantes da Moda/Das quadrilhas animadas/Dos ternos e samba de roda/Maculelê, Capoeira e do Baile Pastoril/Maria dos pescadores/Do catador de mapé/Das cordas de caranguejos/Maria dos meus amores/ Dos meus sobrados tristonhos/Dos meus mais doces sonhos/Do primeiro namorado/Maria lá do Mercado/Com a farinha branquinha/Maria dos seresteiros/Dos cantadores, poetas/ Maria das voltas na Praça/Das conversas no Senado/Maria dos sinos plangentes / Maria das torres acesas / Da palmeira solitária/Que o raio não cortou/Maria da Baronesa / Maria do “Lindro Amô”/ Maria da Prefeitura/Da Rua do Imperador/Do Convento dos Humildes/ Da Maternidade, das pontes/ E da estação do trem / Que passa e apita tristonho / Maria de todo sonho / Maria do meu Motriz / Maria das arraias/ Que voam soltas no céu / Maria do chafariz / Maria da música, da harmonia/ Dos pratos e do pandeiro/ Das festas de fevereiro / Maria das chegadas / E também das despedidas / Maria de tantas vidas /Maria dos Hospitais / Dos médicos, das enfermeiras / Maria do nunca mais / Maria do cemitério /Maria do sempre / Do agora / Maria de toda hora / Maria do meu passado/ Do meu futuro também / Maria da vida toda / Maria que eu quero bem / Maria de escolas pobres / De crianças sem brinquedo / Maria do nosso medo / Maria de analfabetos /Maria do A B C / Maria de Mãe Canô /Da saudade de meu Pai /Maria dos meus irmãos / Maria dos meus amigos / E dos amigos que perdi/ Maria das minhas filhas / Dos meus netos, meus alunos/ Maria dos sentimentos / Das mais doces emoções / Pelo amor do Teu Jesus/Guarda nossos corações.

Foto: Festa de Nossa Senhora da Purificação. Fonte: IPHAN.

Apresentação, por José Newton Alves de Sousa

A ALAMS, fundada em 1979, é uma instituição cultural que se expressa naturalmente mediante a palavra oral e escrita, a música e as artes plásticas. Existem academias diversas, algumas delas requintadas em termos de arte. Diríamos que o fundamento desta é a piedade.

Nossa Senhora foi considerada a fonte da graca e da beleza. Pela expressão artística e cultural, nós nos reunimos na ALAMS em seu louvor. E foi esta a motivação inspiradora desde sua origem: uma vida espiritual sempre marcada pela presença de Nossa Senhora. Entre os fundadores, estava o Pe. Manoel Sanchez, SJ, que era um artista. A ele devemos o nome da Academia e foi ele quem expressou tal inspiração.

Que a Mãe do Salvador seja inspiração para uma vida de louvor e serviço aos irmãos, no espírito da mais profunda fraternidade. Magnificat!