quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

A expressão de Nossa Senhora na cultura brasileira, por José Eduardo Ferreira Santos


Nossa Senhora no cotidiano brasileiro. A invocação da madrinha, mãe e companheira de caminho
(Texto publicado na Revista Passos, n. 44, outubro de 2003). No link ao final da postagem, pode ser visto o artigo em seu formato original)

A presença de Nossa Senhora, desde muito tempo faz-se presente nas artes e na cultura brasileira: nas pinturas, nos poemas, nas esculturas e na música, particularmente no samba carioca, em composições de criadores populares da estirpe de Angenor de Olievira, o Cartola da Mangueira (1908-1980) e canções de domínio público, resgatadas por Clementina de Jesus (1901-1987). Recentemente encontrei algumas composições que me fizeram adquirir um novo olhar sobre a sua presença de Nossa Senhora na música popular, especialmente neste momento em que Dom Giussani tem chamado a atenção para a sua presença como companhia em nosso caminho.
A figura de Maria é revelada e cantada com a proximidade característica da Mãe de Deus e dos homens, seus filhos. No Brasil, a presença de Maria vai permear muitos momentos da vida, da cultura e da tradição. Trazidas nas caravelas, as primeiras imagens de Maria aportaram no Brasil no alvorecer da colonização, fazendo uma importante ligação entre o velho e o novo mundo que se descortinava. Com isso, a devoção mariana foi se expandindo pelas casas e igrejas do Brasil. Desde Nossa Senhora do Bom Parto a Nossa Senhora das Maravilhas, que deu a inteligência ao padre Antonio Vieira (1608-1697), no famoso “estalo” na igreja do colégio jesuítico de Salvador, Maria é uma presença constante na cultura brasileira, permeando a vida do povo brasileiro nas mais diversas circunstâncias. Até nas mais corriqueiras, como as notas que os seminaristas rogavam para alcançar, surgindo daí a invocação de Nossa Senhora do 7 (Sete) , cuja imagem pode ser vista no Museu de Arte Sacra da cidade de Salvador. Essa história que a tradição soteropolitana guarda sobre o “estalo” do padre Antonio Vieira é bem emblemática da presença de Nossa Senhora na vida colonial brasileira. Diz a tradição que Vieira era um menino sem muitos dotes intelectuais e que, por isso, passava horas a rezar diante da imagem de Nossa Senhora das Maravilhas pedindo a o dom da inteligência, até que foi atendido após uma dor de cabeça e, logo em seguida, tornou-se o maior orador da língua portuguesa. Essa imagem encontra-se ainda hoje no museu de Arte Sacra de Salvador, coberta por uma camada de prata.
No ambiente urbano do Rio de Janeiro do século XX, em meio às festividades e ao cotidiano de trabalho, amores, música, belezas e amizades, a figura de Nossa Senhora vai se delinear como o centro de onde emerge a beleza das coisas.
A partir de três sambas vamos aprofundar alguns aspectos da presença de Nossa Senhora da vida brasileira.

Dê-me graças, Senhora

De Cartola, em parceria com Cláudio Jorge, este samba de 1940 com o título Dê-me graças, Senhora, vai fazer uma união entre a beleza da natureza e da criação até chegar ao olhar de Nossa Senhora que resgata a humanidade, sedenta de proximidade com o divino, chegando, com isso, a mergulhar na realidade humana do compositor.

O sol, a lua, / A terra o mar / É um mundo novo / Em teu olhar

A beleza de Maria é um olhar que resgata a beleza da vida e que reconduz o coração do homem à essa mesma beleza. O olhar de Maria refaz a experiência de mundo do homem.

Estrelas vejo a cintilar / Que brisa amena ao te fitar / És indelével como a flor / Qual foi o Deus, teu escultor? /E ouvia a voz e a voz dizia: /“Eu sou a Mãe de Deus, Virgem Maria”

Maria, a beleza encarnada por um sim. Note que há um traço de união entre a humanidade e o desejo aqui representado pela estrela e pela leveza da vida e harmonia da natureza diante do olhar do homem para ela.
O “que brisa amena ao te fitar”, é a ideia de pouso, segurança, como quem repousa nos braços da mãe, qual a Senhora da Piedade. A leveza de Nossa Senhora como mãe aparece neste “indelével como a flor” .

Dê-me graças, Senhora / Um sorriso a quem chora / Onde há ódio vos peço / Que ponha amor / E assim eu serei mais feliz / Que sou

Maria aparece como fonte de devoção e lugar de esperança, filiação. Essa presença maternal de Maria como intercessora e mediadora vai permear muito da cultura brasileira, baste lembrar, por exemplo a beleza do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, onde Maria é invocada por João Grilo e intercede por todos no juízo final. Essa característica maternal de Maria foi assimilada pelo povo brasileiros em suas expressões mais triviais e profundas, como “Virgem Maria” , ou o “Vixe Maria”, “Minha Nossa Senhora” , “Mãe do Céu”, “Nossa Senhora” dentre outras, revelando uma familiaridade com a sua companhia constante.
Na música há uma abertura ao mundo, aos outros , que nasce de um grande amor que emana de Maria. É na experiência do amor e da devoção que o pedido que é para si se expande ao mundo inteiro. Como consequência, a felicidade pessoal coincide com a realização do destino próprio e dos outros.


Festa da Penha


No Brasil, a figura de Maria está relacionada a muitas festas que remontam à origem da colonização. Uma das características desses momentos é a convivência, num mesmo ambiente de muitos habitantes das cidades, que são irmanados pela presença de Nossa Senhora. Algumas festas tornaram-se muito famosas pela beleza e pela unidade que havia entre os devotos. Nossa Senhora do Rosário, das Candeias, da Glória, da Conceição, de Nazaré, da Boa Morte, da Penha, sempre estiveram ligadas a festejos que no imaginário popular eram momentos de oração, pagamento de promessas, encontro, festividade, música, cachaça, roupas compradas para a ocasião e boa comida. Ousaria dizer que a devoção mariana é um traço de união do povo brasileiro. Nos romeiros e peregrinos há uma constante alegria em agradecer as graças recebidas. Dessa gratidão surgem versos como o de Cartola, cheios de afeto e pedidos.
Em torno da figura de Nossa Senhora foram criadas muitas irmandades, cujos fins variavam entre a devoção , a compra de cartas de alforrias a negros escravos e a realização de festas.
No samba Festa da Penha, criado entre 1937 e 1940, por Cartola e Asobert, fala-se da famosa festa realizada no Rio de Janeiro, onde o devoto busca um terno para ir à festa, fazer sua oração e pedidos.

“Uma camisa e um terno usado / Alguém me empresta / Hoje é Domingo / E eu preciso ir à festa / Não brincarei / Quero fazer uma oração / Pedir à santa padroeira proteção
Levarei dinheiro pra comprar / Velas de cera / Quero levar flores / Para a santa padroeira / Só não subirei / A escadaria ajoelhado / Pra não estragar / O terno que tenho emprestado”

Interessante que o autor tem toda uma preparação para ir à Festa da Penha, ou seja, para comemorar. Tudo, para isso, é levado em conta: a roupa que não tem, mas pede emprestada; o dinheiro para comprar velas e o tempo do Domingo como o dia propício para o encontro com a padroeira. Não há espaço para divisões. A festa, os pedidos, o limite (não subir as escadarias com o terno alheio para que o mesmo não se estrague , etc); a oração, a roupa, as amizades, o dinheiro, tudo converge para a presença no momento de celebração, pois a festa da padroeira envolve a globalidade da vida. O samba é espirituoso, porque respeita tudo, até os limites. Note que Nossa Senhora protege e cuida, por isso a devoção filial para com ela.
Historicamente a devoção do povo brasileiro se alimentava nas diversas irmandades e confrarias dedicadas a Nossa Senhora, compostas por homens e mulheres, escravos e livres, cujos momentos de encontro, festividade e celebração marcavam a vida dessas pessoas, que, a partir dessa experiência de fé se reuniam em torno de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ou Homens de Cor, construindo igrejas e comprando a alforria dos escravos, no período colonial.

Piedade

Outro samba onde aparece a figura de Nossa Senhora é um partido-alto, que se caracteriza pela repetição de um refrão, e após cada frase que é cantada. Este samba é de domínio público, ou seja, uma canção que permaneceu no imaginário popular sem autores específicos, que vai sendo assimilado pelas pessoas durante décadas e séculos, sendo modificado e refeito, fazendo permanecer uma parte central, que o identifica durante muitas gerações.
Piedade é um samba de partido alto carioca, que mantém as características das festas católicas brasileiras permeadas pela presença africana e portuguesa, pautadas pela tradição católica europeia, centrais no catolicismo brasileiro. As festas de Nossa Senhora, no Rio de Janeiro e na Bahia, sempre foram locais de encontro e festividade, sendo que na Bahia, ainda hoje, reina o samba de roda e no Rio existem as rodas de samba, onde surgem os partideiros, muitos dos quais famosos pela memória e criatividade, chegando a varar horas criando versos sobre um mesmo tema, alguns dos quais registrados em discos.
Esse partido foi recolhido por Clementina de Jesus, grande cantora de partido alto e sambas, assim como canções de trabalho aprendidas com seus avós ex-escravos. Teve o encontro fundamental de sua vida, com o poeta Hermínio Bello de Carvalho, em uma festa de Nossa Senhora da Glória, no Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro, onde, a partir dali ganhou projeção nacional com sua voz e cantos inigualáveis para a cultura africano-brasileira.
Piedade é uma canção simples na construção, intercalando versos onde a presença de Nossa Senhora se identifica com uma familiaridade impressionante, chegando a explicitar a proximidade da presença mariana em relação aos devotos. Maria aparece como a madrinha, a mãe, a mãezinha, que interfere no cotidiano, naquilo que ele tem de mais natural, prosaico, rotineiro.

Piedade, oi – Piedade
Tem piedade, ó Mãe de Deus – Piedade
Nossa Senhora da Penha – Piedade
Que altura foi morar – Piedade
Naquele lugar tão alto – Piedade
Freguesia de Irajá – Piedade

Note a estupefação ante a localização geográfica da igreja de Nossa Senhora da Penha do Rio de Janeiro. Essa estupefação diz respeito à topografia onde estão localizadas as igrejas de Nossa Senhora e são lugares onde o fiel – devoto, faz a experiência de beleza e de alcance de graças recebidas. Este traço pode ser visto em muitos lugares do Brasil, como na Serra da Piedade, em Minas Gerais; as igrejas da Graça, Escada, Vitória, Carmo e Monte Serrat, em Salvador. Essas igrejas – ou casas de Nossa Senhora – geralmente descortinam ambientes de beleza, diante do mar e do horizonte, com suas serras. Todas constituem um presente à veneração dos visitantes. A beleza dos templos católicos é uma constante na devoção a Nossa Senhora.

Nossa Senhora da Penha - Piedade
É madrinha de João - Piedade
Eu também dou afilhada - Piedade
Da Virgem da Conceição – Piedade

Minha mãe, minha mãezinha - Piedade
Que mãezinha tenho eu - Piedade
Quem comeu meu feijão todo –Piedade
Nem um caroço me deu - Piedade

A forma afetiva de relacionar-se com Nossa Senhora é um traço da identidade nacional. Maria, a mãe e a madrinha, são o foco afetivo do relacionamento de uma sociedade pautado sobre o lato materno da Mãe de Deus, ou seja, uma presença próxima e íntima, que conhece a humanidade a fundo.

Se passares em Mangueira - Piedade
Diga adeus e vá andando - Piedade
Também diga àquele ingrato - Piedade
Saudade tá me matando –Piedade

Eu não bebo mais cachaça - Piedade
Nem o cheiro quero ver – Piedade
Quando eu vejo ela no copo - Piedade
Não posso deixar beber – Piedade

Nas festas católicas brasileiras a vida tem lugar dentro da religiosidade. Este traço é vivido sem divisões ou parcialidades. Tudo encontra abraço na figura da Mãe de Deus: os amores, a vida, o trabalho, os amores, a busca humana de realização.
Ainda hoje, por exemplo, nas festas da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, em Cachoeira, Bahia, os fiéis e visitantes participam do tradicional almoço e do samba de roda organizados pelas velhas senhoras que levam adiante o ciclo da dormição e glória de Nossa Senhora, em agosto, em uma irmandade centenária, cujo um dos objetivos era libertar negros escravos , comprando-lhes as cartas de alforria e venerar a presença a presença da Mãe de Deus.
Por tudo isso, a presença de Maria na cultura brasileira, é um traço da identidade deste povo que aprendeu a amar a Mãe de Deus e nossa.



Discografia:

CARTOLA, 70 ANOS. BMG – RCA, 1979. Produzido por Sérgio Cabral, Rio de Janeiro.
CARTOLA ENTRE AMIGOS. Funarte, 1983. Produtor João de Aquino, Rio de Janeiro.
CLEMENTINA DE JESUS. EMI-ODEON,1968. Produzido por Hermínio Bello de Carvalho, Rio de Janeiro.

http://arquivo.revistapassos.com.br/?id=266&id2=95&id_n=2882&fbclid=IwAR0hUl_G4JY93VTol0e71YLO98oV02FUpX-bqkjEwtPsR4M6Cymn83cRrbc

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O encontro com Nossa Senhora das Maravilhas, por José Eduardo Ferreira Santos



Vem da adolescência, ao visitar as igrejas seculares de Salvador, a paixão por Nossa Senhora e o interesse por suas denominações brasileiras e baianas.

Vem da leitura do livro Santuário Mariano, de Frei Agostinho de Santa Maria, de 1722, quando eu cursava o mestrado, o desejo de conhecer a presença das imagens de Nossa Senhora na Bahia e daí nasceu a busca por suas histórias fascinantes e plenas de devoção. Daí o encontro com Nossa Senhora das Maravilhas... e da Escada, Candeias, do Vencimento, da Pena, Guadalupe, da Penha, algumas das imagens mais antigas, ainda presentes no Museu de Arte Sacra da Bahia.

Seria oportuna uma visita guiada para ver e reencontrar as nossas fontes de fé ancestrais e redivivas a cada visita.

Com a professora Dra. Marina Massimi, da USP (Ribeirão Preto) escrevi sobre a Nossa Senhora das Maravilhas, uma das denominações mais afetivas e eternas da Nossa Mãe. E ela, contemporânea, está no Acervo da Laje, em pintura de Zaca Oliveira e escultura em metal de Ray Bahia com a denominação de Nossa Senhora dos Artistas, cuja presença se deu em Periperi, em homenagem aos artistas, aquelas e aqueles que dominam as artes, no sentido profundo, que trouxeram o progresso à Bahia com os trilhos do trens no século XIX. Pois arte é vida e profissão. Segue o artigo:


"Em Salvador, uma imagem de Nossa Senhora resistente ao tempo e envolta em histórias. “Nossa Senhora das Maravilhas”, bela invocação de Maria, presente na fundação da cidade do Salvador; origem do afeto e da devoção oferecidos pelo povo à sua presença. Um mergulho nesta história...

A cidade da Bahia, como era conhecida a atual Salvador, foi fundada em 1549, por Thomé de Souza, em torno da vida do cristianismo, sendo como principais fatos da fundação a primeira procissão de Corpus Christi e a construção das igrejas da Ajuda, Sé da Palha e Conceição da Praia, todas com imagens trazidas de Portugal.
Uma das imagens sacras mais belas e significativas da época colonial brasileira encontra-se no Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia, e pertence à Arquidiocese de Salvador. Transportada nas caravelas portuguesas pela bispo Dom Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo da Bahia, a imagem de Nossa Senhora das Maravilhas data de antes da época da fundação da cidade de São Salvador da Bahia.
Esculpida em Portugal, em madeira policromada, no século XVI, e revestida de prata no Brasil do século XVII, esta imagem de 65cm, de autoria desconhecida, é proveniente da antiga Sé primacial de Salvador. Nossa Senhora carrega nos braços o Menino Jesus, tem o olhar sereno e traços sóbrios contemplando a maravilha de portar o sentido da história e do mundo na presença de seu filho.

Navegantes
A imagem de Nossa Senhora das Maravilhas tem uma grande importância na fé do povo baiano, embora um tanto esquecida na atualidade. Ela chegou em terras brasileiras (1552), atravessando o oceano, numa das naus que trouxe o primeiro bispo da diocese da Bahia. Esse costume de trazer as imagens de devoção nas caravelas era muito comum, o que ainda pode ser verificado em algumas invocações de imagens trazidas de Portugal pelos navegantes, a exemplo das que encontramos nas igrejas de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, que teve as pedras da construção vindas do além-mar, e a de Nossa Senhora da Ajuda, na Cidade Alta. Eram trazidas como companhia pelos navegantes que se lançavam na aventura das descobertas e travessias por mares amplos, perigosos.

A imagem
Nossa Senhora das Maravilhas ficava num altar da antiga Sé primacial de Salvador, para onde acorriam os fiéis no período colonial, colocando-lhe nas mãos os pedidos, as preces e anseios. Sua existência sempre foi cercada de aventuras e detalhes que a tornam uma peça de valor inestimável para o entendimento da religiosidade e da tradição católica brasileira.
Essa imagem está ligada a dois fatos importantes. O primeiro deles é o que a liga ao grande escritor e pregador do barroco brasileiro, o padre jesuíta Antônio Vieira (1608-1697). Segundo a tradição, foi diante dessa imagem que ele, ainda menino, estudante do Colégio de Jesus, em Salvador, rezava, quando teve o famoso “estalo” que o tornou inteligente e arguto, um brilhante orador, como podemos perceber ao ler os sermões e outras obras do período. Conta-se que, após uma dor de cabeça, o entendimento de Vieira se abriu e ele se tornou pródigo em inteligência.
Um século depois (XVII), a imagem foi revestida de prata, mantendo, no entanto, a mesma sinuosidade do planejamento original, demonstrando a habilidade do artífice e a permanência dos traços estéticos. O revestimento de prata tornou-se importante para a preservação da imagem, assim como o aumento de seu valor e beleza.
O segundo fato é que a imagem de Nossa Senhora das Maravilhas conseguiu sair ilesa da primeira invasão holandesa a terras baianas, em 1624, na qual eles saquearam igrejas e casas da cidade, sendo salva pelo bispo guerreiro, que lutou contra os holandeses nesta época – Dom Mauro Teixeira –, na fuga de Salvador para a Vila do Espírito Santo dos Abrantes.
Atualmente, a imagem de Nossa Senhora das Maravilhas pode ser vista no Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia, que está localizado no Convento de Santa Teresa. Contemplá-la é um mergulho na pedagogia do olhar diante da beleza e da fé. A preservação dessa imagem revela que a memória da fé e do carinho oferecido a Nossa Senhora ainda permanece, revelando as maravilhas que essa mesma fé realiza. A própria beleza desta invocação à Nossa Senhora é um chamado de atenção para a realidade. A maravilha é uma abertura ao real, à beleza das coisas e é através da maravilha que se dá o conhecimento".

Revista Passos N.45, Novembro 2003
SALVADOR - Arte sacra

http://arquivo.revistapassos.com.br/?id=266&id2=94&id_n=2833&fbclid=IwAR2Zym5Ik3L_nDX0WOVNNoxbHTfFJJF8UkSUrWxwvFBkLvKr8VFAZLQNOrQ

domingo, 13 de janeiro de 2019

"Papa Francisco, um homem de palavra".

Em tempos de incerteza, como brilha a luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, razão de toda esperança, no testemunho do Papa Francisco!

O excelente documentário de Win Wenders, está disponível desde novembro em DVD e já pode ser visto no youtube. É fácil acessá-lo e baixar o vídeo completo, mediante pagamento de uma pequena taxa pelo aluguel ou compra.

Neste link se pode ver o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=yA1qDz1OLKk

Segue crítica publicada em outubro de 2018 no site da Unisinos.

"O filme de Wim Wenders sobre Papa Francisco, que será exibido nos cinemas italianos nesta semana, é perfeito como a pincelada de um desenho japonês. Noventa minutos que levam o espectador a ficar cara a cara com o pontífice, empenhado a misturar profundamente as cartas na Igreja Católica.

A reportagem é de Marco Politi, publicada por Il Fatto Quotidiano, 03-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Perfeito, porque participando do longo colóquio com Jorge Mario Bergoglio, chegado ao trono de Pedro do "fim do mundo", o espectador intuitivamente sente o estilo todo próprio com quem o pontífice argentino conjuga o discurso evangélico sobre as bem-aventuranças ("Bem-aventurados vós, os pobres, os que têm fome, os que choram") com o imperativo de enfrentar o drama mundial da desigualdade: um abismo crescente que separa brutalmente a camada daqueles que usufruem de bem-estar da enorme massa dos deserdados e desesperados em busca "não de uma vida melhor"- como Francisco disse certa vez - mas simplesmente da "vida", da sobrevivência.

O Papa Bergoglio, de fato, como também o Papa Ratzinger (duas personalidades diferentes, mas nisso convergentes), está firmemente convencido de que ninguém pode se dizer cristão se não expressar uma solidariedade ativa, concreta, para com seus irmãos e irmãs em necessidade. Em outras palavras, ame o seu próximo como a si mesmo, é a única marca que pode identificar o cristão, e não certamente a frequência passiva às missas.

No filme, o desespero da desigualdade aparece plasticamente, mas sem retórica, nas imagens que fluem alternadamente com as reflexões papais. São imagens sóbrias, apesar do esplendor das cores. Imagens que refletem com precisão o cotidiano "normal", e às vezes até festivo (considerando a chegada do pontífice) dos excluídos. Quer se trate de uma favela brasileira ou Scampia em Nápoles ou uma paisagem boliviana. "A pobreza no mundo é um escândalo!", afirma Bergoglio. E infelizmente, acrescenta ele, na Igreja há muitos que permanecem surdos ao clamor dos excluídos. E, aliás, entre os cristãos e o clero há muitos que cedem à tentação da riqueza.

Talvez pela tentação de poder. "Enquanto na Igreja – frisa Francisco – houver aqueles que colocam sua esperança na riqueza, Jesus não vai estar lá".

http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/583526-papa-francisco-um-homem-de-palavra-wim-wenders-explica-porque-bergoglio-nao-agrada-a-todos

Nossa Senhora da Amazônia


Em tempos de grande necessidade de oração e gestos em defesa da vida dos povos indígenas brasileiros, rezamos a Nossa Senhora da Amazônia para que os proteja! A vida e terra dos índios são também a vida de todos os brasileiros. E como são importantes para o nosso planeta! Pois ninguém pode, como eles, preservar tão bem aquele pedaço tão importante de nossa casa comum.
A notícia abaixo, tão oportuna, é de 2011.



"Aos 23 anos, a designer amazonense Lara Denys assumiu uma grande responsabilidade: a de desenhar a imagem de Nossa Senhora da Amazônia. Nascida em uma família tradicionalmente católica, Lara venceu um concurso nacional para a criação da figura da Virgem. A jovem teve o projeto aprovado pelo Vaticano. Com traços caboclos, Nossa Senhora da Amazônia ganhará agora um Santuário em frente ao Rio Negro, no formato de uma canoa, principal transporte dos povos amazônicos.
A designer contou que, antes de produzir a imagem, estudou arte sacra e a fisionomia do caboclo. "Pesquisei em livros e vi até como indígenas carregam bebês. Queria que o traje fosse mais indígena, mas precisava cobrir todo o corpo de Nossa Senhora, para não incitar sexualidade. Planejei cada detalhe", disse.
A roupa de Maria, por exemplo, é de tom terracota, que remete às terras amazônicas e demonstra a humildade da Virgem.
O vestido de Nossa Senhora traz ainda uma simples estampa baseada na arte dos indígenas Waimiri-Atroari. O manto ganhou um tom mais escuro que o tradicional azul celeste. Lara decidiu manter o véu na cor branca por representar a pureza da Mãe de Jesus Cristo, que aparece nos braços de Nossa Senhora também com traços caboclos. "Ele é um verdadeiro curumim", descreveu.
Nossa Senhora da Amazônia aparece ainda na figura em cima de uma vitória-régia. Segundo Lara, a planta foi escolhida por ser uma das espécies mais conhecidas e bonitas da região. "Além disso, a vitória-régia é forte, cresce em solo infértil, e suporta até 40 quilos. Quando a flor nasce, sempre no escuro, exala um perfume único. Ela é então a base de Nossa Senhora, que aparece como a verdadeira flor da vitória-régia", ressaltou. Ao redor da Virgem Maria, orquídeas brancas, tradicionais da Amazônia, foram estrategicamente posicionadas. De acordo com a criadora da imagem, as flores representam o feminino".

http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2011/12/nossa-senhora-da-amazonia-e-flor-da-vitoria-regia-diz-designer.html